11.Dez.06
AMOR
Nunca vou ao Centro de Saúde a não ser para tomar vacinas. Foi o caso, naquele dia. Sentei-me em frente ao gabinete de enfermagem e mergulhei no livro que tinha levado, prevendo longas horas de espera. A sala estava apinhada. No banco da frente, um homem e uma mulher abraçados. Os cabelos brancos e ralos, as rugas muito vincadas e o ar gasto e cansado faziam adivinhar muitos anos vividos, partilhados, sofridos: talvez 80. O corpo dela, mais fraco e doente, encostado ao dele. A cabeça no seu ombro. Ele enroscava o seu braço no dela e acariciava-lhe a mão enrugada e manchada pela idade, sussurrando-lhe palavras ao ouvido, que se imaginavam de consolo.
“Próximo!”- gritou a menina por trás do guiché.
Ele estremeceu e levantou-se com dificuldade. Agarrou-lhe as duas mãos e puxou-a docemente para cima. “Devagarinho, meu amor, eu ajudo-te”. Arrastaram-se a custo para a porta, para desespero da pressa da funcionária.
Eu ali, de livro na mão, de olhos colados neles a afastarem-se, lentamente, levando o Amor com eles, na sua mais pura essência...
Era isto que eu queria ter. Era assim que eu queria ser um dia.
“Próximo!”- gritou a menina por trás do guiché.
Ele estremeceu e levantou-se com dificuldade. Agarrou-lhe as duas mãos e puxou-a docemente para cima. “Devagarinho, meu amor, eu ajudo-te”. Arrastaram-se a custo para a porta, para desespero da pressa da funcionária.
Eu ali, de livro na mão, de olhos colados neles a afastarem-se, lentamente, levando o Amor com eles, na sua mais pura essência...
Era isto que eu queria ter. Era assim que eu queria ser um dia.
Andar colada ao amor até ser velhinha.