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espaço da raquel

para escrever tudo o que me vier à cabeça, e partilhar cenas daquelas (coiso e tal, e tal e coiso) não me levem muito a sério, tenho mau feitio, mas no fundo sou boa pessoa..... (apesar de não jogar com o baralho todo)

espaço da raquel

para escrever tudo o que me vier à cabeça, e partilhar cenas daquelas (coiso e tal, e tal e coiso) não me levem muito a sério, tenho mau feitio, mas no fundo sou boa pessoa..... (apesar de não jogar com o baralho todo)

11.Nov.07

ritmos de vida

os modernos ritmos de vida estão a provocar profundas alterações no quotidiano dos cidadãos e na organização do trabalho. Novas funções, novos ritmos e, sobretudo, novos horários. Afinal, que espaço de tempo resta para a vida privada? Muito pouco, muitas das vezes, mesmo nenhum.

«Trabalhar para viver, ou viver para trabalhar», eis a questão. O facto é que cada vez mais, o trabalhador dos tempos modernos vive enredado numa espiral estranguladora, que a pouco e pouco lhe retira tempo e capacidade física e intelectual para o seu enriquecimento pessoal, seja a nível familiar, social, ou educacional. As empresas, em nome da concorrência e competitividade, num mundo cada vez mais globalizado, exigem resultados quase impossíveis de alcançar, logo, mais horas de trabalho, mais esforço, maior empenho e entrega.
De forma mais ou menos consciente, o trabalhador lá vai aceitando tacitamente as regras que de maneira mais ou menos informal lhe são impostas e em nome da concorrência – empresarial e profissional, onde os prémios anuais e as expectativas de carreira são colocadas no centro da agenda patronal – eis que mais cedo ou mais tarde, se sente vítima de um apertado cerco que, entretanto, já lhe roubou a família, a vida social, quantas das vezes, a saúde, enfim o futuro fica negro e sem grandes saídas. Importa reconhecer a culpas dos trabalhadores, que muitas das vezes aceitam pacificamente entrar nesse perigoso jogo, que escamoteia toda uma arquitectura legal das relações laborais, construídas ao longo de gerações, em lutas sociais e sindicais, tantas das vezes violentas e dolorosas.
Aquilo que ao longo de muitos anos pareceram aos trabalhadores ser conquistas civilizacionais irreversíveis, são hoje muitas vezes postas em causa por empregadores, Governos e entidades supranacionais, bastando recordar a recente directiva sobre os tempos de trabalho, em discussão na União Europeia. Começa, pois, a desmoronar-se toda uma cadeia da organização do trabalho que ao longo do último século foi apresentada como o primado do mundo ocidental, em contraposição com vergonhosas situações de outras latitudes onde o ser humano tem pouco ou nenhum valor, o trabalho decente é letra morta e as crianças são, apenas e tão só, mais um elemento da força de trabalho.
Nesta arquitectura da organização do trabalho, os horários são uma pedra angular. O Código do Trabalho diz acerca desta vertente, o seguinte «As condições de prestação do trabalho devem favorecer a compatibilização da vida familiar do trabalhador, bem como assegurar o respeito das normas aplicáveis em matéria de segurança, higiene e segurança no trabalho». Diz ainda a Lei que compete ao empregador definir os horários de trabalho dos trabalhadores ao seu serviço, «dentro dos condicionalismos legais». – aponta ainda o Código do Trabalho. Só que temos aqui outro ponto de fricção e incumprimento da Lei, por parte da maioria dos empregadores. Afinal, onde está o hábito de facilitar ao trabalhador a frequência de cursos de formação técnica e/ou profissional?. São ainda prioritárias as exigências de protecção e segurança dos trabalhadores, sendo que, como refere o Código do Trabalho, «os horários individualmente acordados, não podem ser alterados unilateralmente». Só que muitas vezes isto é letra morta, num Estado que se diz e pretende de Direito.
É pois tempo de impedir o aumento desta autêntica selva laboral. Em resumo, é tempo de perguntar:

- Porque vivemos para trabalhar e não trabalhamos para viver ?

Responda quem quiser e quem verdadeiramente queira fazer de Portugal um país moderno, justo, fraterno e solidário no que às relações e tempos de trabalho diga respeito.